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Diagnosticado com HIV há 8 anos, cozinheiro diz que ex-chefe já pediu para que ele lavasse a mão na privada 4df1p

Djair Oliveira já sofreu sorofobia no trabalho, na faculdade e segue recebendo ataques na web: 'Acham que a pela comida' 366zt

13 jun 2025 - 04h59
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Djair Oliveira Gomes produz conteúdos sobre saúde e sexualidade nas redes sociais e tem desenvolvido uma rede de apoio para pessoas que vivem com HIV
Djair Oliveira Gomes produz conteúdos sobre saúde e sexualidade nas redes sociais e tem desenvolvido uma rede de apoio para pessoas que vivem com HIV
Foto: Arquivo pessoal/Djair Oliveira Gomes

Já faz quase 10 anos que Djair Oliveira Gomes, de 27 anos, descobriu ser uma pessoa com HIV e, até agora, não se vê livre para viver uma vida sem preconceitos. Aos 19 anos, quando recebeu o diagnóstico, ele cortou o dedo em um restaurante onde trabalhava e sua chefe pediu para ele lavar a mão na privada. Dias depois, foi demitido. Sem mais, nem menos. O medo era de que ele transmitisse algo para a comida, o que é mito. l1c4s

A história pode parecer absurda, mas segue se repetindo. Influenciador digital e agora cozinheiro em um negócio próprio, Djair voltou a receber comentários semelhantes ao divulgar seu empreendimento e expôs a situação nas redes sociais – mesmo lugar onde produz conteúdos educativos sobre saúde e sexualidade. “Tive minha vida toda prejudicada por causa da falta de informação das pessoas”, contou Djair, ao Terra.

Quando soube de seu diagnóstico, ele relata ter sido exposto por sua chefe, por sua coordenadora da faculdade e que também enfrentou preconceitos por parte da família. Ele chegou a se ver sem casa, sem trabalho e sem perspectivas para o futuro. Mas, movido pela revolta de tudo que sofreu, Djair decidiu dar ‘as caras’ na internet para falar sobre o assunto.

“Eu acredito que o preconceito é uma falta de informação, em uma boa parte [dos casos]”, diz ele, que vê como fundamental mostrar que é uma pessoa que vive com HIV e que não é o diagnóstico que o define. “Quanto mais pessoas que vivem com HIV se sentirem à vontade para falar abertamente, eu acho que mais a gente vai estar combatendo o preconceito”.

Djair, que vive em Aracaju, em Sergipe, cozinha desde os 14 anos, quando conseguiu seu primeiro emprego em uma padaria. Desde então, ou por restaurantes e tem se aprimorado na área. Quando estava em busca de uma nova fonte de renda, já desencantado com o mercado tradicional, ele foi incentivado por pessoas que reconheciam seu talento como cozinheiro a abrir seu próprio restaurante. E assim fez, há cerca de um ano, onde faz vendas via aplicativo de delivery. Essa é sua principal fonte de renda.

Mas, mesmo tendo um perfil nas redes sociais com conteúdos que buscam romper com estigmas que circulam em torno de pessoas com HIV, quando ele compartilhou seu restaurante, foi mais uma vez alvo de ataques. Teve quem disse que ele poderia transmitir o HIV pela comida, e quem ainda acrescentou que isso poderia ser feito “na maldade”. Tentando “ajudar”, ele também recebeu mensagens de pessoas falando para ele não divulgar seu restaurante em seu perfil, para prevenir boicotes. 

“Vendo isso até pensei que, poxa, as coisas não evoluem. Mesmo depois de tantos anos, o mesmo aconteceu comigo agora como estou tentando fazer meu dinheiro, e de forma honesta, com meu próprio negócio”, desabafou. 

A exposição dos comentários sorofóbicos viralizou. Mas, mesmo que em meio a ataques preconceituosos, Djair também recebeu apoio de diversos internautas – e encontrou, mais uma vez, forças para continuar. “Fico muito feliz por agora estar podendo ser um porta-voz de acolhimento e conhecimento”, contou.

Foto: Arquivo pessoal/Djair Oliveira Gomes

É crime 1b83x

A discriminão de pessoas que vivem com HIV é crime, previsto na Lei 12.984/14, com reclusão de um a quatro anos, e multa. A lei considera crime:

I - recusar, procrastinar, cancelar ou segregar a inscrição ou impedir que permaneça como aluno em creche ou estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado;

II - negar emprego ou trabalho;

III - exonerar ou demitir de seu cargo ou emprego;

IV - segregar no ambiente de trabalho ou escolar;

V - divulgar a condição da pessoa com HIV ou de doente de aids, com intuito de ofender-lhe a dignidade;

VI - recusar ou retardar atendimento de saúde. 

Djair não chegou a denunciar os casos de discriminação que sofreu assim que recebeu seu diagnóstico, aos 19 anos. Ele relembra ter tentado buscar por advogados na ocasião, mas não conseguiu seguir com os processos por ser impedido pela família e, também, por falta de informações na época.

Além de serem crimes, são situações que expõem muito a gente a uma vulnerabilidade que faz mal pro nosso psicológico, e que também causam instabilidades financeiras”, desabafou.

Como contou, sua antiga chefe, que o demitiu, revelou seu diagnóstico para seus pais, que o expulsaram de casa por ser homossexual. Além disso, ela teria "iludido" sua família se comprometendo a ajudar a dar entrada em um pedido de aposentadoria por invalidez para o jovem por causa do HIV. Por isso, então, seus pais atrapalharam suas buscas pela formalização de uma denúncia. E foi também por conta dessa movimentação que ele acabou ficando sem receber sua rescisão trabalhista. Ele trabalhou no restaurante por cerca de três anos. 

"E com dois meses de tratamento eu fiquei indetectável, o que o INSS considera como saudável. E é saudável. Eu sou apto a trabalhar. Mas a gente sabe que socialmente existe uma exclusão, sim", explicou Djair.

Sem dinheiro e sem casa, Djair precisou se virar dormindo de casa em casa de conhecidos. Até que recebeu apoio de um amigo, com quem vive há anos. 

Djair cursava enfermagem, por meio do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Após descobrir seu diagnóstico, ele sugeriu alguns trabalhos na faculdade voltados à educação sexual, em alusão ao ‘Dezembro Vermelho’, mês de campanha de conscientização sobre HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).

Mas, na hora, recebeu como resposta de sua coordenadora uma pergunta indelicada: “Quando você descobriu seu diagnóstico">Sendo assim, a transmissão pode ocorrer:

  • Por transfusão de sangue;
  • Por compartilhamento de agulhas entre usuários de drogas injetáveis;
  • Por transmissão sexual;
  • Por transmissão vertical – durante o trabalho de parto, da mãe para o bebê.

E mesmo nesses casos, como explicou Neubauer, há tratamentos que podem ser iniciados que não permitem que a contaminação se concretize. 

“Fora essas maneiras de transmissão, outras são muito incomuns. Fantasiosas e não factíveis”, reforça o especialista.

Para que haja, por exemplo, transmissão de pele a pele, fora do ato sexual, Neubauer explica que seria preciso pegar dois ferimentos com secreção de uma pessoa e de outra pessoa, e esses ferimentos se encostarem. “Ninguém mexe no ferimento de outra pessoa sem proteção. Além de tudo, o HIV sobrevive muito pouco tempo fora da superfície do corpo, ele sobrevive por poucos minutos”, explica.

Sobre o caso específico de um cozinheiro com HIV transmitir o vírus pela comida, o médico diz ser “uma completa bobagem”.

“Besteira completa. Primeiro que o cozimento mata o vírus. Segundo, mesmo que a pessoa salpique um pouquinho de sangue naquele alimento, coisa que ninguém faria, o tempo que demora entre isso acontecer e esse alimento chegar à mesa, inviabilizaria o vírus. E mesmo se esse vírus for ingerido e a pessoa não tiver nenhuma ferida na boca, não tem risco de contágio. Então isso é uma completa bobagem”, explica.

Fonte: Redação Terra
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